quarta-feira, 20 de agosto de 2008

Só falta Olivença...

A Rússia teima em retirar da Geórgia como supostamente terá prometido ao Presidente francês Nicolas Sarkozy. Cria problemas com os observadores da OSCE e promete mesmo após a retirada manter um certo controlo sobre a Geórgia. E é fácil entender a aflição russa face às rápidas mudanças nos seus ex-satélites. Segundo relatórios da “Freedom House” enquanto a Rússia permanece um país autocrático, a Geórgia procura evoluir e já tem o estatuto de parcialmente livre. A Rússia permanece acusada de concentração de poderes, controlo eleitoral ilegal, reduções da liberdade de expressão, expansão da corrupção e restrições em organizações não governamentais. Quanto à Geórgia, esta tem um sistema mais híbrido, devido ao facto de por um lado oferecer aos media e à oposição um grau elevado de liberdade, e por outro, por não ter um real comportamento competitivo na ascensão governamental ao poder. Desde 1993 com guerras na Abkhazia e na Ossétia do Sul cerca de 15% do território georgiano permanece sob controlo de governos sem reconhecimento contribuindo para a instabilidade nestes territórios. Nos direitos políticos de 1 a 7 (sendo o 1 a classificação mais democrática e o 7 a menos democrática) a Geórgia obtém uma classificação de 4 enquanto a Rússia obtém um 6. Nos direitos civis a Geórgia detém um 4 enquanto a Rússia é classificada por um 5.
Por seu turno, o país de Estaline esforça-se por arrastar o ocidente, até por ser nas organizações e alianças internacionais afectas a esta zona do globo que se pretende fixar, mas até agora pode dizer-se que este tem sido pouco influenciável. A NATO e a UE estão agora a estabilizar das aventuras expansionistas a leste. Aventuras essas que do nosso ponto de vista ocidental e liberal representam sucessos, mas que do lado russo não são mais do que atentados à sua área de influência. Depois das ditas movimentações de agregação no leste, o ocidente opta agora por uma estratégia diplomática de apaziguamento, dada a inviabilidade de uma nova guerra de grandes dimensões, que ainda para mais seria despoletada por um mero problema distante e de natureza regional. O máximo a fazer é a mediação até porque a Rússia tem um bom pretexto a legitimá-la. O conflito gerou-se pelo pretexto da Ossétia do Sul que segundo consta terá uma maioria russa na sua população. Aqui nota-se desde já a resposta ao “precedente kosovar”, a que a Rússia se opunha. De facto, a verdade é que o princípio da auto-determinação é um problema complexo. Parece difícil representar fidedignamente o conceito de “Estado-Nação”, sendo que ou estes se coadunam naturalmente ou então dá-se uma unidade forçada e artificial. É difícil legalizar e estabelecer requisitos para a auto-determinação. Portugal não costuma dar-se bem com estas questões. O Ministro dos Negócios Estrangeiros Luís Amado já salientou que a contribuição portuguesa para as forças da NATO não será mais do que simbólica. As fronteiras insistem em assustar-nos ao nunca parecerem completamente definidas e ao permitirem espaços para os atentados ao princípio de não-intervenção em estados soberanos. Na verdade, bem que podíamos aproveitar. De forma mais diplomática que a Rússia, podíamos usar esta onda de indefinições territoriais para começar a propôr um plebiscito à nossa vizinha Espanha acerca de Olivença. Mesmo que já saibamos qual seria a resposta pragmática do povo oliventino…

Relatórios Freedom House:
http://www.freedomhouse.hu/images/fdh_galleries/NIT2008/NT-Georgia-final.pdf
http://www.freedomhouse.hu/images/fdh_galleries/NIT2008/NT-Russia-final1.pdf

terça-feira, 29 de julho de 2008

VIH/SIDA

Numa sociedade informada e relativamente desenvolvida como a portuguesa, seria de esperar que o número de infectados com este tipo de doença, ao longo do tempo, fosse algo de semelhante a uma função que se vai aproximando infinitamente do zero. No entanto, não é isto que se verifica. Segundo o jornal SOL, baseado nas estimativas do 'Relatório sobre a Epidemia Mundial do HIV/SIDA - 2008', elaborado pelo Programa Conjunto das Nações Unidas para a doença (ONUSIDA), os números aumentaram, relativamente a anos anteriores, na casa dos milhares.
Parece que quanto mais informados somos, menos cuidado temos. Enquanto se continuar a achar que isto é o tipo de coisas que só acontece aos outros, não haverá decerto qualquer melhoria.

domingo, 27 de julho de 2008

Pragmatismo político



Depois de mais um encontro com o presidente venezuelano Hugo Chávez, que dá seguimento a uma política externa que encadeou atenções sobre países como Rússia, Angola ou Líbano, voltaram a pairar no subconsciente de alguns indivíduos uma possível atitude laudatória do governo português a outros tipos de regime tidos como menos democráticos. Aqui a discussão não é essa. Na verdade, neste conjunto de relações nota-se somente a maior facilidade dos estados que rondam os regimes autoritários em fazerem diplomacia com países de pequena dimensão, como é o caso português. É um jogo de conveniências, naturalmente. Os estados menos democráticos ganham em legitimação e reconhecimento internacional. Nesta escolha sobre com quem estabelecer relações pesa o facto de que a diplomacia com estados mais importantes, para além de serem normalmente menos dependentes, acarretam mais exigências diplomáticas. No fundo, a dependência ao contribuir para a definição do peso internacional de um país leva ao pragmatismo. Do meu ponto de vista, não tenho nada contra. Balanças comerciais desequilibradas, questões energéticas, problemas acerca dos emigrantes e condições para as empresas portuguesas, se internacionalizarem, entre tantas outras situações, têm de ser resolvidas e apoiadas. E sim, este zelo tem de deixar em segundo plano questões éticas acerca dos regimes com quem o governo se relaciona. A prioridade moral encontra-se sim na situação interna. O pragmatismo político não pode ter uma conotação negativa. Portugal sabe onde exercer as suas pretensões reguladoras do sistema internacional. Como estado isolado Portugal permanece frequentemente sem voz na política externa. Basta olharmos para o caso do Kosovo onde por exemplo, ainda há uma posição a ser tomada. Daqui se compreende o porquê, de Portugal ser propenso à integração e aprofundamento em organizações internacionais. Basta ver a posição portuguesa face à PESC, à União Mediterrânica ou aos perdões das dívidas das ex-colónias (sendo estes últimos tantas vezes criticados principalmente pela Região Autónoma Madeira). Pode-se criticar alguma inércia, mas por vezes temos de ver o pragmatismo que está por trás e que não pode deixar de ser louvado ao poder apaziguar flagelos como o terrorismo e flexibilizar as relações internacionais.
Nisto, a direita política aplaude os estímulos económicos enquanto a esquerda denuncia o oportunismo e os privilégios das classes empresariais. Dos dois lados ambos denunciam a prática diplomática portuguesa com países que se encontram nos antípodas em relação à posição que defendem do espectro ideológico. Para mim a política externa portuguesa é sim classificada por um forte grau de inevitabilidade. Na minha percepção, a geografia dos recursos naturais predominantemente centrada em países com outros tipos de regime, aliada à conjuntura difícil que vivemos devido à crise internacional é que dita a aproximação.

terça-feira, 22 de julho de 2008

De volta ao canibalismo

Após largos meses de ausência, o Canibal está de volta. Continuará como se o tempo tivesse parado, embora saiba perfeitamente que não parou, e que a vida continuou paralelamente a toda a "inactividade canibalesca"...

sábado, 12 de abril de 2008

Ban Ki-Moon: Rússia pode desempenhar papel maior

"Secretário-Geral da ONU declara que Moscovo pode desempenhar um papel maior para expandir a parceria “já substancial” com a Organização das Nações Unidas, em declarações proferidas ontem na Universidade Estatal de Moscovo.



Ban Ki-Moon, Secretário-Geral da ONU, declarou ontem na Universidade Estatal de Moscovo que “Estou convencido que (a Rússia) pode desempenhar um papel ainda maior do que outrora desempenhou, um papel de acordo com o tamanho tremendo do país, a sua riqueza e alcance global”. Ban Ki-Moon citou as palavras de Mikhail Lomonosov, fundador da Universidade Estatal de Moscovo: “amor do país é uma fonte potente de motivação”, acrescentando que “como Lomonosov sabia, e como nós sabemos hoje, uma abordagem global é uma necessidade – uma que vai além das fronteiras nacionais”.

Para Ban Ki-Moon, “esta nação aparentemente sem fim, parte Europa, parte Ásia, cobrindo 11 fusos horários de Kaliningrad a Kamchatka, se estabelece como interveniente igual e independente no palco político mundial”. Referiu ainda que a Rússia está envolvida globalmente em muitas áreas, desde a área dos negócios, às e cultura.


“O tamanho e os recursos do seu grande país trazem responsabilidades,” disse Ban Ki-Moon, “quer dentro, quer fora das fronteiras”.

“Como membro fundador da ONU e membro permanente do Conselho de Segurança, a Federação Russa tem um enorme papel num sistema previsível e compreensivo de relações globais, capaz de abordar questões importantes de forma estratégica e pragmática,” continuou.


Concluiu que “O princípio russo de um mundo multipolar é próximo da noção de multilateralismo . a pedra de toque das Nações Unidas”.


Konstantin KODENETS


Quem concorda?

segunda-feira, 7 de abril de 2008

Escudo anti-inimizade.


George W. Bush e Vladimir Putin reuniram-se na residência de Verão do presidente russo, em Sotchi, na costa do mar Negro para discutir assuntos como a expansão da Nato e o escudo anti-míssil no leste europeu. Este escudo engloba a criação de barreiras anti-missil na Polónia e radares de detecção na República Checa, o que naturalmente aflige o presidente russo. Mesmo assim parece que o ambiente da residência de Verão do presidente russo faz milagres, pois segundo consta, a relação entre ambos chefes de estado foi bastante amigável. Porém, a conjuntura de prossecução de entendimento de ambas as partes continua a esbarrar em pontos críticos em que os dois líderes discordam. O Kremlin opõe-se ao projecto americano, mas Putin realça que após a reunião está "prudentemente optimista". Acredita-se que o continuar do diálogo pode favorecer um entendimento leal e consistente. Mesmo assim há que dar mérito a Putin, pois nota-se que é um dirigente que mesmo com os seus defeitos, não teme a exposição clara dos seus interesses, sem olhar ao poder da nação que está do outro lado (embora ele também represente um país que se faz respeitar). Putin realça que este sistema anti-míssil pode significar um retomar da corrida ao armamento que pode anular os importantes acordos SALT obtidos na fase final da Guerra Fria. É normal que para um término efectivo da Guerra Fria tenha de existir cooperação e transparência diplomática de ambas as partes. Bush refere que o escudo visa apenas proteger os EUA e os aliados europeus contra eventuais disparos feitos a Leste. Putin sente-se normalmente enquadrado nesse leque de eventuais inimigos. A localização do escudo é vista com dúvidas, que no meu ponto de vista são legítimas. Por outro lado, a hípótese de um escudo com um domínio democraticamente dividido entre as nações envolvidas no projecto é a proposta russa. O argumento democrático é no entanto, irónico... Contudo, para mim esta era a melhor solução. Um país não vive à base de promessas e isto seria um meio de assegurar um compromisso recíproco que favoreceria progressivamente as relações entre os países da Europa, a Rússia e os EUA e estimularia um essencial sentimento de confiança. No campo das desvantagens, na minha perspectiva, o que se pode despoletar é uma maior "ingovernabilidade" quanto às decisões efectivas de utilização do escudo anti-míssil. Mesmo assim, julgo que os EUA, não deveriam estar tão renitentes quanto a esta possibilidade, pois a maior desvantagem continua a estar do lado russo, visto que decisões de utilização conjunta do escudo, num limite e seguindo o hábito diplomático, colocaria os EUA e a Europa de um lado e a Rússia isolada do outro. Falando em Europa, esperemos também que hajam mais negociações sobre este tema, com o pólo do "Velho Continente" incluído.
Esta terá sido a última reunião entre Bush e Putin como chefes de estado e perante este cenário Bush disse estar "nostálgico". No mínimo, o difícil tema do escudo anti-míssil, teve efeitos imprevisíveis na relação entre ambos. De tal forma que existe a promessa de que um diálogo aberto será intensificado. É caso para dizer que de um escudo anti-míssil, quase que passaram para um "escudo anti-inimizade", que esperemos que seja franco e se prolongue nos mandatos dos próximos presidentes.

sexta-feira, 4 de abril de 2008

Já vi este tipo de bigode em qualquer lado...


Robert Mugabe é a encarnação dos destinos entendidos como unívocos da nação do Zimbabwe desde 1980, ocupando os cargos de Primeiro-Ministro desde essa data e de Presidente a partir de 1990. Começou por ser bem acolhido pelas massas até porque durante o seu mandato atingiu a independência face à Rodésia e inaugurou-se um novo estado sobre a égide do lema "Unidade, Liberdade, Trabalho" (embora a palavra do meio tenha ficado "esmagada" pelas palavras laterais, se é que me entendem).
Após 28 anos no poder, o Zimbabwe vive as suas pseudo-eleições, mas parece que a mão de ferro começa a fraquejar, pois a comum fraude eleitoral está num impasse. Mugabe parece no mínimo ter perdido a maioria no parlamento embora a comissão eleitoral ainda nada tenha revelado, estando num compasso de espera que normalmente inspira desconfiança. No partido de Mugabe, o ZANU-Frente Patriótica, já circularam rumores que indiciam que alguns dirigentes se mostraram propensos a não apoiar Mugabe e "exigir" a sua renúncia e até se diz que Robert Mugabe terá aceite essa hipótese, mas perante um simulacro de golpe de estado que o permitiria sair, no seu ponto de vista de forma mais honrada. Mugabe quer tudo menos perder, nem que isso implique mais uma falsidade (residual até) no meio de um regime que já por si é falso, tal como exemplifica a existência legal de um jornal totalmente afecto ao estado do Zimbabwe, e por onde muito comodamente se veiculam sondagens encomendadas. Todavia, isto não passam de informações constantemente atestadas de veracidade e simultânea falsidade. Agora aguarda-se pela segunda volta onde se saberá o desfecho. Nestes dias colocam-se várias questões que suponho que deixem qualquer um constrangido. Será que a democracia é mesmo viável neste tipo de países? Ou as ditaduras são soluções de agregaçao de países de parcos recursos e de carácter multi-étnico que requere uma unidade restrita? Será que a democracia não é um regime idílico nestas circunstâncias? E por outro lado, recordemo-nos da Cimeira UE-África. Ou será que sou o único que apenas se lembra do nome (com esforço), porque medidas práticas que sirvam de marca deste evento, provavelmente não existem. Não é de desprezar esta iniciativa de contacto entre os dois continentes, mas a diplomacia por vezes exagera ao privilegiar os protocolos e afins, enquanto os resultados são ofuscados por uma mais que trivial inércia. Mesmo assim, a comunidade internacional continua na esperança de que o caso queniano nao se repita. O que teremos de ver é se a esperança da comunidade internacional é acompanhada por medidas preventivas de novos conflitos, estranhamente ligados a actos simples para democracias liberais, como são as eleições.

He had a dream




4 de Abril de 1968. Martin Luther King é assassinado em Memphis.

Salvador da Pátria?

Pois é, para todos aqueles que condenam a corrupção e achavam que esta era um problema sem solução possível no seio da sociedade portuguesa, é com muito agrado que lhes dou a melhor notícia de sempre: chegou o salvador! Segundo a Al Jazeera, José Sá Fernandes é o oásis no meio do enorme deserto que é o Portugal corrupto, "um dos países mais pobres do mundo". Num documentário transmitido pela estação televisiva oriental, explora-se o problema da corrupção e mostra-se uma face especial da cidade de Lisboa. Vale a pena ver, quanto mais não seja para saber em quem é que todos os alfacinhas deveriam ter votado nas últimas autárquicas. Bolas, se eu soubesse o que sei hoje...



Documentário: parte 1, parte 2