segunda-feira, 7 de abril de 2008

Escudo anti-inimizade.


George W. Bush e Vladimir Putin reuniram-se na residência de Verão do presidente russo, em Sotchi, na costa do mar Negro para discutir assuntos como a expansão da Nato e o escudo anti-míssil no leste europeu. Este escudo engloba a criação de barreiras anti-missil na Polónia e radares de detecção na República Checa, o que naturalmente aflige o presidente russo. Mesmo assim parece que o ambiente da residência de Verão do presidente russo faz milagres, pois segundo consta, a relação entre ambos chefes de estado foi bastante amigável. Porém, a conjuntura de prossecução de entendimento de ambas as partes continua a esbarrar em pontos críticos em que os dois líderes discordam. O Kremlin opõe-se ao projecto americano, mas Putin realça que após a reunião está "prudentemente optimista". Acredita-se que o continuar do diálogo pode favorecer um entendimento leal e consistente. Mesmo assim há que dar mérito a Putin, pois nota-se que é um dirigente que mesmo com os seus defeitos, não teme a exposição clara dos seus interesses, sem olhar ao poder da nação que está do outro lado (embora ele também represente um país que se faz respeitar). Putin realça que este sistema anti-míssil pode significar um retomar da corrida ao armamento que pode anular os importantes acordos SALT obtidos na fase final da Guerra Fria. É normal que para um término efectivo da Guerra Fria tenha de existir cooperação e transparência diplomática de ambas as partes. Bush refere que o escudo visa apenas proteger os EUA e os aliados europeus contra eventuais disparos feitos a Leste. Putin sente-se normalmente enquadrado nesse leque de eventuais inimigos. A localização do escudo é vista com dúvidas, que no meu ponto de vista são legítimas. Por outro lado, a hípótese de um escudo com um domínio democraticamente dividido entre as nações envolvidas no projecto é a proposta russa. O argumento democrático é no entanto, irónico... Contudo, para mim esta era a melhor solução. Um país não vive à base de promessas e isto seria um meio de assegurar um compromisso recíproco que favoreceria progressivamente as relações entre os países da Europa, a Rússia e os EUA e estimularia um essencial sentimento de confiança. No campo das desvantagens, na minha perspectiva, o que se pode despoletar é uma maior "ingovernabilidade" quanto às decisões efectivas de utilização do escudo anti-míssil. Mesmo assim, julgo que os EUA, não deveriam estar tão renitentes quanto a esta possibilidade, pois a maior desvantagem continua a estar do lado russo, visto que decisões de utilização conjunta do escudo, num limite e seguindo o hábito diplomático, colocaria os EUA e a Europa de um lado e a Rússia isolada do outro. Falando em Europa, esperemos também que hajam mais negociações sobre este tema, com o pólo do "Velho Continente" incluído.
Esta terá sido a última reunião entre Bush e Putin como chefes de estado e perante este cenário Bush disse estar "nostálgico". No mínimo, o difícil tema do escudo anti-míssil, teve efeitos imprevisíveis na relação entre ambos. De tal forma que existe a promessa de que um diálogo aberto será intensificado. É caso para dizer que de um escudo anti-míssil, quase que passaram para um "escudo anti-inimizade", que esperemos que seja franco e se prolongue nos mandatos dos próximos presidentes.

4 comentários:

comandante guélas disse...

"A Europa continua a viver em Liberdade, graças a dois americanos fantásticos: Reagan e Bush. O primeiro acabou com a guerra-fria, libertando metade da Europa de cerca de 50 anos de terror e escravatura social-fascista. O segundo, combatendo sem tréguas o nacional-socialismo islamita, que a Alemanha, sempre a Alemanha, quer agora homenagear com um "feriado islâmico" - Dra. Quitéria Barbuda

www.riapa.pt.to

Maria disse...

A instalação de um escudo anti-míssil em território Polaco é é com certeza uma "provocaçãozinha" Americana de todo reprovável.
Também me é difícil de conceber e acreditar que a instalação deste escudo seja para proteger a Europa dos inimigos Terroristas, quando basicamente os americanos é que fomentam o terrorismo e o clima de insegurança que se faz sentir no Mundo.
Acho que Putin, está a ser demasiado benevolente e penso que a bem ou mal, este projecto não se vai concretizar.
A Rússia não vai ceder - espero eu - às propostas irrisórias do Presidente Bush!

Diogo N. disse...

Vou ser obrigado a discordar do que disseste no teu comentário, maria. A tese que defendes em relação aos EUA parece ser uma de "contininuidade propositada da Guerra-Fria", como se os EUA precisassem de um antípoda para justificar a sua própria existencia, mas com um adversario diferente. A ameaça do terrorismo, embora em moldes diferentes, existe há muito mais tempo, para que essa seja uma perspectiva que consiga aceitar. O que me parece que defendes é que os EUA se aproveitaram desse clima de insegurança para se afirmarem como o grande vencedor da guerra-fria. Pergunto-te se não achas que um clima de estabilidade pós-guerra fria, em que os estados unidos estão à cabeça do mundo como grande potência mundial, não seria muito mais propício à própria manutenção desse poder. Porque justificar-se com uma ameaça constante é paradoxal, na medida em que essa ameaça é demasiado instável para que se possa controlar para sempre. Tudo o que os Estados querem é manter a sua posição de destaque num sistema internacional em que são realmente importantes. Nunca ninguém sabe em que posição vai ficar se o equilíbrio de poder se alterar, e este é o eterno problema dos Estados, sob um ponto de vista realista.

Maria disse...

A retórica utilizada em relação ao tema Guerra Fria, tem sido muito mais vezes levantada pelo Presidente Russo do que pelo Presidente Americano. Aqui enganaste-te. O que quis dizer, e o que me parece que está a acontecer é que os EUA na sua arrogância estão progressivamente a deteriorar a segurança Mundial ( a começar pela Guerra no Iraque, a acabar com a instalação de misseis à porta da Federação Russa).
Parece-me óbvio que todos os Estados internacionalmente importantes queiram manter a sua reputação e a sua influência perante os "mais pequenos", mas, o que te pergunto Diogo, é se os EUA o estarão a fazer da melhor maneira?